O tomateiro é uma planta de difícil cultivo, por ser alvo de muitas doenças responsáveis por perdas severas na produção. Dentre elas, a geminivirose (ou begomovirose) tem causado elevado prejuízo aos produtores de tomate para consumo in natura e também para processamento industrial.
A doença é causada por um complexo de vírus do gênero Begomovírus, pertencente à família Geminiviridae, transmitido por moscas-brancas. Os begomovírus encontrados no Brasil são constituídos de DNA em partícula do tipo geminada e genoma bipartido.
Já no exterior, o principal begomovírus que infecta o tomateiro, o Tomato yellow leaf curl virus(TYLCV), é diferente do que ocorre no Brasil. O TYLCV causa sintomas bem severos em tomateiro, as plantas infectadas deixam de crescer e a produtividade é drasticamente reduzida.
Incidência
O aumento na incidência de begomovírus em tomateiro provavelmente foi desencadeado pela introdução de um novo biótipo de mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B (= Bemisia argentifolii), no Brasil, eficiente vetor dos begomovírus.
As características de polifagia, alta taxa de multiplicação e excelente adaptação às condições climáticas brasileiras podem ter favorecido a rápida expansão geográfica desse biótipo da mosca-branca.
Novas espécies de begomovírus foram e estão sendo relatadas em tomateiro e outras plantas, demonstrando a alta diversidade de espécies desse complexo viral. Estudos recentes sugerem a presença de um complexo de espécies virais distribuídas nas diferentes regiões produtoras. Esses vírus são capazes de infectar outras espécies de plantas, porém se acredita que o principal reservatório de vírus seja o tomateiro (cultivos infectados e tigueras na entressafra).
Plantas daninhas, como Nicandra physaloides (joá de capote), Sida spp. (granxuma),Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo, leiteiro) e Crotalaria spp. (fedegoso) também são fontes potenciais destes vírus.
Sintomas e diagnose da begomovirose
Vários são os sintomas causados pelos begomovírus, sendo que a infecção, em geral, inicia-se com um pronunciado clareamento de nervuras. Esse sintoma nem sempre pode ser observado, porém é bem característico.
Níveis variados de manchas cloróticas nas folhas são vistos na forma de mosqueado e mosaico, e muito frequentemente se observa intenso mosaico amarelo. Pode haver rugosidade, deformação, enrolamento foliar e diminuição da área foliar. Não há observação de sintomas nos frutos, mas há redução do número e tamanho de frutos, quando provenientes de plantas infectadas.
Em infecções precoces, a planta tem seu crescimento paralisado ou seu desenvolvimento severamente afetado. Em infecções tardias, ela pode crescer e produzir quase como uma planta sadia. No entanto, a simples observação desses sintomas não indica a presença dos begomovírus, uma vez que os sintomas podem ser facilmente confundidos com aqueles causados por desequilíbrios nutricionais, diferenças varietais e infecção por outros vírus.
Mosca-branca como vetor de begomovírus
Embora denominada de mosca-branca, esse inseto não é uma mosca (isto é, não é um díptero) e não apresenta coloração branca, e sim amarelada. Trata-se na realidade de um inseto sugador da ordem Hemiptera e da família Aleyrodidae.
A dispersão dos begomovírus ou a sua introdução em lavoura de tomateiro ocorre exclusivamente pela ação da mosca-branca a partir de plantas infectadas. Essas plantas, que são fontes de vírus, podem estar situadas em área próxima ou distante, em plantios novos, velhos ou abandonados; em tomateiro, em plantas daninhas, em plantas silvestres ou em plantas de outras culturas.
A relação de transmissão entre os begomovírus e as moscas-brancas é de modo circulativo e persistente. Nesse modo de transmissão, o vírus, ao ser adquirido durante o processo de alimentação, circula no corpo do inseto, passando pelo sistema digestivo até atingir as glândulas salivares, quando então pode ser transmitido para plantas sadias.
A mosca-branca se torna infectiva tanto na fase jovem (ninfa) como na fase adulta, durante a alimentação em plantas doentes. Pode-se admitir, resumidamente, que o inseto poderá adquirir o begomovírus em pelo menos 15 minutos e, após 16 horas, este poderá transmiti-lo quando ficar em contato com a planta sadia por pelo menos 30 minutos.
A eficiência de transmissão deverá ser crescente à medida que se aumenta cada um desses períodos. Uma única mosca-branca adulta virulífera poderá ser suficiente para infectar várias plantas ao longo de sua vida, a qual pode chegar a 25 dias.
Fique atento
É importante considerar com diferente perspectiva a atuação da mosca-branca como praga sugadora e como vetora de begomovírus. Quando a mosca-branca atua como sugador, o dano ao tomateiro só ocorrerá com elevada população dessa praga. Durante a sua alimentação na planta, a mosca-branca pode injetar toxinas, responsáveis pelo amadurecimento desuniforme dos frutos e a isoporização da polpa.
Nos casos onde há uma grande população de mosca-branca nas plantas na fase de frutificação, é comum o produtor não conseguir colher frutos comercializáveis. Entretanto, quando a mosca-branca atua como vetora, uma baixa população pode facilmente infectar a lavoura, chegando a atingir 100% de incidência de vírus.
Miguel Michereff Filho
[email protected]
Alice Kazuko Inoue Nagata
Pesquisadores da Embrapa Hortaliça
Disponível em:http://www.revistacampoenegocios.com.br/